Exemplo de Grosjean

Claro que, como torcedor brasileiro, esperava que a segunda vaga da equipe Team Lotus à temporada 2012 de Fórmula-1 ficasse nas mãos de um piloto do País. Rubens Barrichello, Lucas di Grassi, Luiz Razia, enfim, qualquer patrício.

Mas a contratação de Romain Grosjean, 25 anos, vai muito além de qualquer patriotismo. É bastante positivo ver um talento regressar à categoria, inclusive quando sua passagem anterior não foi das mais positivas. Algo que quebra aquele paradigma de que a Fórmula-1 jamais permite segunda chance a um piloto.

A primeira passagem de Grosjean pela categoria ocorreu em 2009. Justamente pela Renault, atual Team Lotus. Disputou os últimos sete Grandes Prêmios daquele ano. Para alguns, o rendimento do franco-suíço foi um desastre total. Sinceramente, não creio que chegou a tal ponto.

Em classificações, por exemplo, Romain foi em média 0s376 mais que lento que seu companheiro de equipe. Trata-se de uma distância considerável em conta pilotos que, teoricamente, dispunham de equipamentos semelhantes. Mas não podemos ignorar o fato de que o companheiro de time de Grosjean era um tal de Fernando Alonso. Bicampeão, experiente e velocíssimo Alonso.

Em corridas, o rendimento do piloto natural de Genebra foi discreto. Embora tenha completado cinco das sete provas que participou, o máximo que conseguiu foi um 13º lugar, em Interlagos. No mesmo período, Alonso obteve uma terceira e uma quinta colocações. Na imprensa francesa, o papo era de que Romain sofria, sobretudo, para encontrar bom ajuste a equilíbrio e pressão dos freios. Algo nada surpreendente. Afinal, Grosjean chegou à Fórmula-1 sob a pompa de piloto promissor, mas com pouca quilometragem em testes com carros da categoria.

De fato, Romain não seguiria como titular pela Renault em 2010. Não havia olhos voltados à possibilidade de que pudesse evoluir com o time. A equipe passava por um instante conturbado, reflexo das ações jurídicas que sofria por conta do famigerado acidente intencional em Cingapura, no ano anterior. Algo que rendeu a perda de patrocinadores importantes da escuderia, inclusive o máster, do banco holandês ING. Estava claro que a Renault precisaria recuperar essa grana, entre outros modos, com um piloto dotado de bons patrocínios. Esse era o caso de Vitaly Petrov; não de Grosjean.

Sem grandes alternativas, o franco-suíço parou na equipe Matech de FIA GT. Os resultados se mostraram promissores, inclusive com vitórias em Abu Dhabi e Brno. Deixou o certame em agosto, para se dedicar exclusivamente a Auto GP. Na categoria, que em anos anteriores era chamada de Fórmula-3000 Italiana – e que teve Felipe Massa como campeão, em 2001 – Grosjean começou a reerguer sua carreira.

Embora não tenha disputado as quatro primeiras provas do certame (duas rodadas duplas), o piloto da equipe DAMS arrasou a concorrência. Em oito corridas, venceu quatro. Faturou ainda um segundo e dois terceiros lugares. Sagrou-se campeão.

Para 2011, a parceria com a DAMS foi mantida. Agora, porém, na GP-2.

Logo no início do ano, Grosjean faturou a versão asiática da categoria. Uma conquista sem muito brilho, contudo. Não propriamente por qualquer problema relacionado ao ex-piloto da Renault. Mas conturbações nos cenários político e social no Bahrein resultaram no cancelamento das quatro provas no circuito de Sakhir. Assim como ocorreu com o GP de Fórmula-1. No final das contas, o certame contou com apenas quatro corridas.

No grande desafio do ano, a temporada regular da GP2, o franco-suíço sobrou. Pontuou em nada menos que 15 das 18 etapas do campeonato. Foram dez pódios e cinco vitórias. O título veio com três corridas de antecedência, em Spa-Francorchamps.

Mais que convencer a Lotus e boa parte do paddock da Fórmula-1 de que os maus tempos ficaram para trás, Grosjean conseguiu um importante apoio: o da petrolífera francesa Total, parceira da Lotus.

Segundo Jean Alesi, ex-piloto de Fórmula-1 e atual embaixador do Grupo Lotus, a Total propôs a diretoria da equipe de Enstone que concedesse seu segundo carro ao atual campeão de GP-2. Em contrapartida, a empresa injetaria mais dinheiro na escuderia em 2012.

O valor dessa manobra, claro, não foi divulgado. Assim como a maioria dos contratos na Fórmula-1, detalhes estão guardados a sete chaves. Mas é possível ter uma ideia ao se levar em conta que Petrov tinha acordo para correr nesse ano pela equipe. Desse modo, a Lotus abriu mão de 12 milhões de Euros oriundos de patrocinadores do russo. E provavelmente teve de desembolsar uma rescisão de 500 mil Euros, referente aos salários que Vitaly receberia até o fim de 2012.

Assegurar que Grosjean terá sucesso nessa segunda passagem pela Fórmula-1 é algo que somente o tempo poderá responder. Mas, uma coisa é certa: ele já é um exemplo de como reconstruir uma carreira quase demolida após uma passagem sem resultados de destaque na F-1. Que sirva de exemplo a muitos colegas de profissão desse franco-suíço, portanto.

 

Por Rafael Ligeiro

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