Schumacher genial

Mesmo longe de seus dias mais gloriosos na Fórmula-1, Michael Schumacher saiu da Bélgica, palco da 12ª etapa da temporada 2011 da categoria, com dois motivos para comemorar. Primeiro, claro, a excelente participação na corrida belga. Embora o circuito de Spa-Francorchamps proporcione ultrapassagens, situação que ficou evidente durante o GP desse domingo, chegar em quinto após largar em 24º lugar é algo para poucos. Já o segundo – e principal – motivo: Schumacão completou 20 anos de sua estreia na F-1.

Então. O que dizer sobre Schumacher?

Simples. Ao longo dessas duas décadas, o piloto natural de Hürth-Hermülheim foi um pouco de tudo: piloto pagante, novato afobado, malandro – até trapaceiro, às vezes, multicampeão, aposentado… Mas, bem além de qualquer adjetivo, é inquestionável que Michael Schumacher trata-se de um gênio. Desses que são singulares em uma geração. Em mais de uma, algumas ocasiões.

Sessenta e oito pole positions, 91 vitórias, 154 pódios, 1.483 pontos, dois vice-campeonatos e sete títulos. De fato, os números do alemão na Fórmula-1 impressionam. No entanto, basear-se somente em suas marcas para defini-lo beira clichê. Schumi extrapola essas conquistas.

Tudo bem… É verdade que ele nunca se encaixou naquele padrão de piloto que dá espetáculos por frear o carro “tarde”, atravessá-lo na curva e controlar eventuais saídas de traseira. Como Ayrton Senna, Gilles Villeneuve e Ronnie Peterson. Contudo, Michael é um piloto técnico. E, sobretudo, um estrategista. De primeiríssima linha. Da estirpe de Alain Prost, Nelson Piquet e Niki Lauda.

Tais virtudes ficaram mais evidentes durante a passagem pela Ferrari. Nessa época, Schumacher não se mostrou um piloto acima da média somente por conquistar cinco títulos em sequência. Ele buscava décimos de segundos onde os adversários não costumavam buscar. Entradas de box eram assiduamente treinadas pelo alemão. Desse modo, ele via até qual ponto poderia acelerar o carro antes da linha onde os pilotos precisam limitar a velocidade a 100 km/h. E não para por aí. Foi Michael quem popularizou a tática de cravar voltas voadoras, dignas de treinos, nos giros que antecedem a um pit stop. Sem esquecer-se da habilidade no controle do equilíbrio dos freios – que é feito pelo próprio piloto, a bordo do monoposto.

Confesso que acompanho a carreira de Michael na Fórmula-1 praticamente desde seu início. Mais precisamente desde 1993. E um dos desempenhos mais sensacionais que vi por parte do germânico não resultou em uma vitória. Tampouco foi protagonizada em uma corrida. Refiro-me ao treino oficial ao GP da Malásia, em 1999.

À época, Schumacher voltava às pistas após três meses em recuperação de uma fratura na perna direita, oriunda do acidente na etapa de Silverstone. Nesse período, o companheiro de Ferrari, Eddie Irvine, estava na briga pelo título da temporada, contra Mika Häkkinen, da McLaren. Curioso é que era a primeira vez que o circuito de Sepang fazia parte do calendário da Fórmula-1. E enquanto os pilotos rachavam a cuca em busca de um acerto competitivo, o germânico barbarizava. Em uma volta avassaladora, cravou a pole com o tempo de 1m39s688. Irvine fechou a sessão em segundo lugar. Tempo? 1m40s635, praticamente um segundo mais lento que Schumacher.

Na corrida, Michael fez o papel que em algumas vezes seus parceiros de time italiano fizeram por ele: o de escudeiro. Entregou a liderança ao britânico na quarta volta, aguentou a pressão de Häkkinen e fechou a dobradinha ferrarista. Com Irvine em primeiro, claro.

Muitos dizem que o atual Michael Schumacher não é mais o mesmo desses tempos de Ferrari. Opiniões são opiniões e respeito cada uma. Contudo, creio que o enfoque é errado. Na verdade, as situações que mudaram. Não haveria como Michael desaprender. Acontece que ele não é mais o piloto no auge da forma física, embalado por uma dúzia de temporadas seguidas de Fórmula-1. Precisou reciclar algumas das coisas aprendidas até 2006, por conta das mudanças no regulamento técnico da categoria nesse período. E, claro, apesar da boa estrutura, a Mercedes ainda não se mostrou capaz de construir um carro à altura do trio-de-ferro (Red Bull, McLaren e Ferrari). Sem isso, até mesmo pódios tornam-se um delicado objeto de desejo.

Por conta desses fatores, Schumacão hoje lembra mais suas duas primeiras temporadas de Fórmula-1, na Benetton, que qualquer uma das onze vividas na Ferrari. Trata-se de um piloto difícil de ultrapassar. Por vezes, apto a manobras arriscadíssimas – Massa e Barrichello que o digam! Mas, como deixou claro em provas como as de Spa-Francorchamps e Montreal, ambas nesse ano, ainda é veloz e nada adepto à política de enfiar o rabinho entre as pernas e deixar uma ultrapassagem para amanhã. Alheio à posição que ocupe.

Por essas e outras, registro uma sugestão aos críticos-de-plantão: não queiram “determinar” quando Michael deva ou não deixar a Fórmula-1. Mesmo longe de seus resultados mais prolíferos, Schumi ainda faz bem ao automobilismo. Muito bem.

Por Rafael Ligeiro

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