Rivais e com razão

Williams e Ferrari possuem uma das rivalidades mais marcantes entre as equipes da Fórmula-1. E, nessa semana, mais uma página dessa disputa começou a ser escrita. No entanto, bem diferente da época em que duelavam nas pistas por vitórias e títulos.

Trata-se de um embate de bastidores. A negativa da equipe inglesa à solicitação ferrarista – feita a todos os times da categoria, pela liberação de um teste a Michael Schumacher antes do GP da Europa, que será disputado no dia 23, desagradou à turma da equipe italiana. Tanto que em nota emitida pela Ferrari, na quarta-feira (5), a Williams foi definida como “equipe que não ganha nada há muito tempo”.

Ambas as escuderias tem razão no que defendem. Aclamada no início dos anos 90 por Ayrton Senna como dona de “carros de outro planeta”, tamanha competitividade exibida na pista, a Williams está quase cinco anos sem vencer uma prova de Fórmula-1. A última ocorreu em 24 de outubro de 2004, no Brasil, com Juan Pablo Montoya. Desde então, a rotina do time parece restrita a acumular pontos aqui, um pódiozinho acolá. Títulos? Os últimos foram os de Pilotos e Construtores, em 1997. Nessa época, a galeria de títulos de Michael Schumacher se resumia aos dois obtidos pela Benetton. Nessa época, pouco – ou nada – se falava sobre Kaká, Cristiano Ronaldo, Usain Bolt, Michael Phelps, Gisele Bündchen, Barack Obama, Joseph Ratzinger, televisão digital, IPod, MP4. O mundo ainda se espantava com a recém-clonada ovelha Dolly. E havia quem pregava que não chegaríamos ao ano 2000.

Mas se o rendimento nas pistas em 2009 não condiz com o vitorioso passado da equipe, fato é que o pessoal da Williams – com o endosso da Red Bull – está correto ao não apoiar a realização de um teste ao alemão com o carro da Ferrari na atual temporada, o F60. Embora a restrição aos testes durante o campeonato seja – mais um – regulamento patético na história recente da Fórmula-1, é o que está no papel. Deve-se evitar a possibilidade de que a Ferrari use um meio nobre, o da readaptação de Schumacher a um bólido de F-1, para outra finalidade: o desenvolvimento do bendito F60.

Logicamente, não se trata de má fé por parte da escuderia de Maranello. Mas sim de esperteza diante de uma eventual abertura de regulamento. Até porque, alheio ao circuito em que fosse realizado tal teste, lá estaria o time de mecânicos e engenheiros da Ferrari. De olho no rendimento de Schumi e do carro. E, claro, assim que saltasse do cockpit do carro após estacioná-lo no box, o alemão passaria suas impressões técnicas do F60 a essa turma.

Pode parecer pretensão, exagero. Ou maluquice, até mesmo. Mas penso que Schumacher não precisa desse teste para se adaptar ao F60. Não que ele esteja alheio às dificuldades comuns a qualquer piloto longe das pistas há quase três anos. Mas a perspectiva é de que, em questão de uma dúzia de voltas, já tenha desvendado os “mistérios” do bólido. Suficiente para garantir-lhe uma condição bem competitiva nas pistas. Isso por dois motivos. Primeiro: o próprio histórico de Schumacher na F-1 mostra que se trata de um piloto capaz de se adaptar rapidamente a novos desafios. Foi assim, por exemplo, na assombrosa estreia na Fórmula-1, pela Jordan, em Spa-Francorchamps, na já distante temporada de 1991.

Segundo – e principal – motivo: um piloto muito acima da média na categoria da FIA, Schumacher parou ainda por cima, no auge da forma física e técnica, capaz de atuações irretocáveis na temporada de despedida, em 2006. Muito diferente de outros campeões, que pareciam se arrastar pelas pistas em seus últimos campeonatos.

Diante de tal cenário, claro, logo surge uma questão. Inevitável. O alemão será capaz de voltar às pistas com resultados semelhantes aos obtidos antes da saída de Fórmula-1? Sinceramente, é difícil cravar aposta. Até porque a Ferrari está bem diferente daquela equipe que brigou com a Renault pelo título de Pilotos e Construtores de 2006. Leia-se menos competitiva. Atualmente o posto de principal força do certame pertence à Red Bull. Logo a seguir vem Brawn, McLaren e o time italiano. Os três em semelhantes níveis de competitividade.

Embora sejam importantes, os resultados do alemão nesse regresso à Fórmula-1 são secundários. Claro que haverá cobranças – e até mesmo gozações – se Schumacher ficar fora de um Q3 aqui, rodar acolá… Mas a presença do heptcampeão é, sobretudo, suficientemente positiva à categoria. Trata-se de uma pitada de humanidade e competência em um campeonato marcado bem mais por distúrbios políticos nos bastidores que por disputas nas pistas. Um atrativo sob qualquer circustância. Alheio se estiver na briga pelas primeiras posições ou apenas quebrando a cabeça em busca de um bom ajuste ao Ferrari número três; se dividir curva com Sebastian Vettel e Lewis Hamilton, gente nova de uma geração boa de braço, ou com antigos rivais, como Fernando Alonso e Kimi Räikkönen.

E se Schumi faz bem à Fórmula-1, idem à Ferrari. A experiência de Michael Schumacher será peça importante ao desenvolvimento do F60 nessa reta final de temporada e, até mesmo, a alguns conceitos que venham a ser empregados no modelo do próximo ano. Tudo isso com ou sem o teste que titio Frank Williams barrou.

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