A História da 24 Horas de Le Mans

Uma das mais famosas – e duradouras – provas do Automobilismo Mundial no Endurance é a 24 Horas de Le Mans, sempre no circuito La Sarthe, disputa que neste ano vai para a sua 91ª edição…

Em termos de existência, a 24 Horas de Le Mans só perde para a 500 Milhas de Indianápolis, que disputou a sua 107ª edição em maio de 2023.

Mas a 24 Horas de Le Mans é diferente. Primeiro é uma prova de longa duração – são exatamente 24 Horas de disputas. Segundo pelo volume de carros inscritos, que normalmente supera os 60 carros, em várias categorias diferentes, inclusive em performance e velocidade.

Primeira 24 Horas de Le Mans da história – 1923

A história da 24 Horas de Le Mans começou antes, quando o homem sentiu a necessidade de dirigir rápido desde que inventou o automóvel. Para se ter uma ideia, já em 1894 começaram a ser organizadas as primeiras corridas de automóveis, onde os rudimentares carros da época corriam em ruas e estradas, sem nenhuma preparação, nem das pistas menos ainda dos carros.

A organização ficava por conta do Automobile Club de France, uma das primeiras associações de entusiastas do automobilismo da história. Não demorou para que as corridas começassem a ser consideradas um esporte perigoso, com os primeiros acidentes sendo noticiados logo que as provas começaram a ser disputadas.

O momento crítico veio em 1903 durante a corrida Paris-Madrid, organizada pelos clubes do automóvel da França e da Espanha: inúmeros boatos de acidentes fatais começaram a surgir — incluindo a notícia da morte de Marcel Renault, fundador da marca que leva seu sobrenome ao lado dos irmãos Fernand e Louis. Ainda que nem todos fossem confirmados, foi o bastante para que a corrida fosse interrompida antes mesmo de sair da França.

Não demorou muito para que uma alternativa surgisse. E foi no ano de 1906, quando as estradas ao redor de uma pequena cidade francesa foram fechadas e formaram um circuito de formato quase triangular, com pouco mais de 105 km de extensão. Ali foi disputada uma uma corrida de longa duração durante dois dias — 26 e 27 de junho. Os pilotos completavam seis voltas por dia, e cada volta levava cerca de uma hora para ser completada nos carros disponíveis à época.

O nome da cidade era Le Mans, que se tornou o palco do primeiro Grand Prix da França. A corrida foi disputada por 32 competidores, representando um total de 12 fábricas de automóveis diferentes.

A prova marcou um costume, um padrão, que basicamente se estende até hoje: uma corrida de longa duração, disputada no mês de junho, em estradas fechadas nos arredores de Le Mans — a exata descrição de quase todas as edições da 24 Horas de Le Mans. Curiosamente, a 24 Horas de Le Mans foram criadas justamente para formar o paralelo com os Grand Prix.

O Enduro

Os melhores carros, daquela época romântica do automobilismo, tinham motores de 15 a 20 litros de deslocamento, raramente com mais de quatro cilindros e potência abaixo dos 50 cv, mas sua evolução foi bastante rápida. As corridas de Grand Prix haviam se tornado um campo de testes, onde os fabricantes de carros testavam sua capacidade de construir as máquinas mais rápidas.

Entrou em cena, então, o Automobile Club de La Sarthe — que atualmente responde pelo nome de Automobile Club de l’Ouest (ACO). A organização sentiu a necessidade de apresentar um desafio diferente para fabricantes de carros e pilotos: em vez de concentrar todos os esforços apenas em fazer o carro mais rápido, a proposta era combinar velocidade e esportividade com resistência e eficiência no consumo de combustível. E como colocar os carros à prova? Em uma corrida que durasse um dia inteiro – isto é, 24 horas consecutivas.

As provas seriam disputadas novamente em um circuito de rua nos arredores de Le Mans — com alguns trechos construídos especialmente para a corrida. Era o circuito de La Sarthe, que ganhou este nome devido ao distrito onde Le Mans fica, e tinha um desenho relativamente parecido com o que temos hoje: um triângulo entre Le Mans, e as comunas francesas de Mulsanne e Arnage, com uma longa reta entre Le Mans e Mulsanne.

A primeira prova foi disputada em 1923. Ao todo, 66 pilotos largaram no dia 26 de maio, mas seis deles não terminaram a corrida por não conseguir gerenciar o desgaste dos carros e dos pilotos — afinal, era uma prova de resistência não só para as máquinas, mas também para os homens no comando delas.

No início, a 24 Horas de Le Mans deveria ser uma competição disputada ao longo de três anos, uma corrida por ano. Os pilotos que conseguissem percorrer a maior distância somadas as três corridas seria declarado vencedor. A ideia, contudo, foi abandonada já em 1928 e, desde então, o vencedor é aquele que consegue percorrer a maior distância no fim das 24 horas.

Os primeiros anos da 24 Horas de Le Mans foram decisivos para alguns aspectos, hoje basilares, da corrida. Logo em 1925, por exemplo, foi criada a largada tipo Le Mans, tradição até a década de 80: os pilotos ficavam de um lado da pista e os carros, desligados, do outro. Quando a bandeira francesa era abaixada, os pilotos deveriam correr até o carro, entrar nele e ligá-lo sem a ajuda de ninguém.

Nos anos 60, a largada Le Mans começou a causar acidentes fatais nas primeiras voltas, porque os pilotos simplesmente ignoravam os cintos de segurança para sair mais rápido. Com o grid lotado, acidentes nas primeiras voltas eram comuns, e os pilotos estavam muito mais vulneráveis porque estavam sem o cinto.

Um marco de velocidade para as provas da 24 Horas de Le Mans foi alcançado em 1926: pela primeira vez a velocidade média ao longo da prova foi superior a 100 km/h.

A Guerra das Marcas

Nos primeiros anos da corrida, marcas como a Bugatti e a Alfa Romeo, além de fabricantes inglesas como a Bentley dominaram a 24 Horas de Le Mans. Logo, carros confiáveis e pilotos resistentes não eram suficientes para garantir a vitória. A concorrência era cada vez mais elevada, e as equipes tiveram que começara a inovar num ritmo maior.

No início dos anos 30 já era possível ver carros projetados com uma preocupação maior pela aerodinâmica e as disputas começaram a ficar mais intensas, tornando-se uma verdadeira guerra no asfalto.

Acontece que outra guerra, desta vez real, a Segunda Guerra Mundial, fez com que a prova entrasse em um hiato que durou nove anos (a 24 Horas de Le Mans não foi disputada entre os anos de 1940 e 1948).

Depois do fim da guerra, em 1944, o circuito de la Sarthe estava destruído. Foram necessários quatro anos para que a pista voltasse a ter condições de receber a prova, que então voltou a ser disputada no ano de 1949 – prova que também viu a primeira das nove vitórias da Ferrari em Le Mans, na ocasião com um modelo 166MM. Curiosamente, nenhum dos pilotos era italiano: Luigi Chinetti era americano e Peter Mitchell-Thomson era inglês.

Foi depois de 1953, quando o WSC (World Sportscar Championship) foi formado, que muitos fabricantes consagrados passaram a se interessar pela 24 Horas de Le Mans — Aston Martin, Jaguar e a Mercedes-Benz. Muitas destas tiveram seus dias de glória nas décadas seguintes, como a Ferrari, que conseguiu seis vitórias consecutivas (1960-1965), a Ford, que venceu pela primeira vez em 1966 e conseguiu quatro vitórias consecutivas (1966-1969), além da Porsche, a maior vencedora de todas, que conseguiu sete vitórias (1981-1987).

Nos tempos atuais tivemos uma nova leva de vencedores, como a Peugeot. A Audi, que participou de Le Mans pela primeira vez em 1999, é a atual força dominante. Mas em 2014 veremos a volta da Porsche, da Toyota e, possivelmente, da Ferrari.

No formato atual as provas separam os carros em duas classes para cada tipo. Os carros mais rápidos são os Protótipos, e são divididos nas classes LMP1 e LMP2. Já os carros esporte gran-turismo são divididos nas classes LMGT1 e LMGT2 (atuais GTE Pro e GTE Am).

A prova é realizada com todos os carros simultaneamente na pista, isto é: há apenas um grid de largada, e portanto todos os carros largam ao mesmo tempo. Já a chegada se dá quando o primeiro carro cruzar a linha de chegada, após decorridos pelo menos 24 horas de prova.

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