Bruno Senna

Por Rafael Ligeiro
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Com os resultados discretos de Felipe Massa e Rubens Barrichello na atual temporada, Bruno Senna é a nova bola da vez do Brasil na Fórmula-1. Bruno estreou pela Lotus Renault no GP passado, na Bélgica. Embora não tenha pontuado, mostrou forte ritmo durante a corrida. Durante a classificação, garantiu um bom sétimo tempo na classificação. Rendimento que agradou à turma da Lotus Renault.

Mas não é bem sobre o desempenho de Bruno que pretendo comentar. Nessa coluna, ao menos. Em maio de 2006, tive a oportunidade de entrevistar o sobrinho do tricampeão. Nessa época, ele ainda estava na Fórmula-3 Inglesa. É um registro interessante onde é possível conhecer mais sobre sua trajetória antes da Fórmula-1 e o período em que esteve afastado do automobilismo.

Segue a entrevista:

Bruno leva um sobrenome de peso nas costas, muito peso. Ele é sobrinho do lendário tricampeão Ayrton Senna. Após dez anos sem guiar qualquer tipo de carro de competição – de 1994 a 2004, Bruno convenceu sua família a apoiar seu regresso ao automobilismo. Voltou ao kart, mas por causa de sua altura à época, 1,80m – um tanto elevada para os padrões do kartismo, Bruno resolveu ir direto aos monopostos. Arrumou as malas e desembarcou na F-BMW, no circuito de Brands Hatch, em setembro de 2004. Ou seja, faz menos de dois anos que ele está no automobilismo.

A atual temporada começou de forma fulminante. Venceu cinco das seis corridas que participou. Três na F3 australiana e as duas primeiras etapas da mais poderosa de todas as F-3, a Inglesa. Saiba como Bruno vê o automobilismo e o que ele pensa sobre o futuro nessa entrevista.

Rafael Ligeiro: Pouco antes do início da atual temporada de Fórmula-3, você declarou que ficaria contente se ficasse entre os três primeiros na classificação do campeonato. Depois dos resultados em Oulton Park agora você só pensa em título?

Bruno Senna: Não posso me empolgar por causa de um início de temporada acima das minhas expectativas. Continuo achando que terminar entre os três melhores deve ser a meta, porque estou enfrentando vários pilotos – inclusive meus companheiros de equipe – bem mais experientes do que eu. Claro que vou fazer o máximo para ser campeão, mas tem muita água para passar debaixo da ponte.

RL: Quais serão seus principais adversários nessa temporada?

BS: Diria que são o Mike Conway, que corre pela minha equipe e ficou em terceiro no ano passado, além do Oliver Jarvis e do Salvador Durán, embora este não tenha se saído muito bem nas duas corridas em Oulton Park.

RL: Além de mais experiência em relação a 2005, quais características você acredita ter evoluído como piloto? O que você pensa que ainda precisa melhorar?

BS: Acho que venho evoluindo com consistência. Basta comparar meus resultados desde o final de 2004 com os mais recentes. Além das vitórias na Austrália e em Oulton Park, eu havia feito uma boa pré-temporada, andando sempre entre os mais rápidos e sempre próximo do Conway. Nossas diferenças raramente ultrapassaram a um décimo, para um ou para outro. Mas é claro que um piloto com 35 corridas no currículo têm um longo caminho a percorrer. Tenho muito a aprender em todas as áreas.

RL: Em termos de experiência e de vitrine, você acredita que a Fórmula-3 Inglesa tem muito mais a oferecer a um piloto do que a GP2?

BS: Nesse momento, não posso pensar em vitrine e sim em aprender. A Fórmula-3 é praticamente uma necessidade para quem antes só havia feito algumas provas de Fórmula BMW. O pulo para a GP2 seria muito grande, em virtude da enorme diferença de potência dos motores – cerca de 200 cavalos na F-3 e 600 na GP2.

RL: O que passava por sua mente no período em que esteve afastado das pistas sobre uma eventual retomada na carreira de piloto? De fato, foi em 2001, quando você obteve sua carteira de habilitação, que “renasceu” a vontade de guiar.

BS: Nunca deixei de sonhar em ser piloto. Simplesmente não havia clima na família na sequência do acidente com meu tio. Quando surgiu a conversa com minha mãe, a respeito do meu futuro, ela ficou surpresa, mas não se opôs ao meu desejo de voltar a correr. Ao contrário. Passou a me apoiar quando viu que o negócio era sério.

RL: O Ayrton foi um grande incentivador para que você iniciasse sua carreira no automobilismo. Você costumava passar tardes brincando na casa dele, durante o período de férias da Fórmula-1. Apesar disso, vocês conversavam sobre automobilismo? Lembra de alguma conversa marcante?

BS: Eu era criança, tinha apenas dez anos quando o Ayrton morreu. Eu assistia às corridas pela TV, andava de kart na fazenda do meu avô, mas não conversava com ele sobre automobilismo. Na verdade, quem me ensinou muito no começo foi meu avô.

RL: Como foi sua adaptação à Inglaterra e, acima de tudo, a morar sozinho? Dizem até que você já sabe cozinhar muito bem…

BS: Eu diria que estou me virando bem. A casa ainda está um pouco bagunçada, mas dá para ir levando. Fui obrigado a aprender a cozinhar e hoje já consigo sair um pouco daquela rotina das massas. Até feijão e arroz já sei fazer. No mais, tenho de arrumar a cama, dar um trato no apartamento, que é pequeno, e levar a roupa suja para a lavanderia.

RL: Caso o desejo de chegar à Fórmula-1 não se realize no próximo ano, qual seria o caminho mais viável: continuar na F-3 ou partir para a GP2? E piloto de testes na F-1. Você descarta essa hipótese?

BS: Nem estou pensando em Fórmula-1 em 2007. Preciso fazer um bom ano agora e viabilizar minha passagem para a GP2. A ideia é fazer uma ou duas temporadas na GP2 e me preparar para, quem sabe, chegar à Fórmula-1 em seguida. Mas é difícil fazer uma projeção no automobilismo, porque as coisas mudam muito rapidamente.

RL: Um dos proprietários da Toro Rosso, o austríaco Gerhard Berger, é grande amigo da família Senna e tem demonstrado, por meio de declarações, acreditar muito no seu talento. Você pensa que sua primeira oportunidade na F-1 será concedida pelo Berger?

BS: Não tenho a mínima ideia. O que preciso é me preparar bem para o dia em que a chance pintar. Se eu for bem na Fórmula-3 e na GP2, acredito que tudo ficará, não digo mais fácil, mas menos difícil. Se não demonstrar condições para tanto, ninguém vai me dar um carro para andar só porque é amigo da família.

RL: Desde o acidente de seu tio, em 1994, o torcedor brasileiro logo cria grande expectativa sobre os compatriotas que chegam à Fórmula-1. Para você, qual é a melhor maneira para superar essa “pressão inicial” da torcida e, até mesmo, da imprensa?

BS: Bom, não sei como cada um lidou com essa carga. Eu ainda não cheguei lá, por isso também não me sinto em condições de responder. Mas, se eu pudesse resumir, diria que o melhor é se concentrar em fazer o trabalho da melhor forma possível. Pressão sempre existirá, e não apenas para cima dos brasileiros. Qualquer um que ande num Fórmula-1 sabe que está sendo olhado com atenção e precisa apresentar resultados para se segurar, independentemente do nome que carregue.

RL: No ano passado, pouco antes do treino classificatório para o Grande Prêmio do Brasil, você correu com uma Lotus-Renault pilotada por seu tio, em 1985. O que você observou sobre o lado técnico do carro? Você concorda com a opinião daqueles que afirmam que os carros daquela época proporcionavam ao piloto mais chances de mostrar o talento que na Fórmula-1 atual?

BS: Para fazer uma comparação mais real, eu precisaria ter andado com dois carros. Minha experiência com aquela Lotus foi muito breve. E ainda não pilotei um Fórmula-1 atual. Agora, discussão sobre as diferentes épocas sempre vai existir. E nunca vai se chegar à conclusão alguma…

RL: Aproveitando ainda esse tema, então você não acredita que é possível comparar pilotos de diferentes épocas da Fórmula-1 mesmo com disparidade na tecnologia dos carros…

BS: Acredito que não. Cada um deve ser julgado de acordo com o seu tempo. Não há como comparar pilotos que correram em épocas diferentes, equipes diferentes, carros diferentes, regulamentos diferentes…

RL: O que você pensa sobre o atual elenco de pilotos da Fórmula-1?

BS: Tem muita gente boa. Gosto bastante do Michael Schumacher, que considero um excelente estrategista. O Alonso é excelente nas corridas, o Räikkönen é um piloto muito rápido. Dos brasileiros, nesse ano, acho que o Massa começou melhor que o Rubinho. Só precisa se acalmar um pouco, porque já provou que tem potencial para dar trabalho ao Schumacher.

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