Em 2011, estaremos lá

Enfim acabou a novela sobre a USF1. Segundo a emissora norte-americana de televisão Speed Channel, a equipe da Carolina do Norte desistiu de disputar a temporada 2010 de Fórmula-1. Mas ao invés de um “adeus”, parece ser um “até breve”. Isso porque, a diretoria do time solicitou à FIA o adiantamento da inscrição no campeonato 2011. Os cartolas da escuderia, aliás, já teriam até oferecido um cheque-caução à entidade – estimado em nada menos que 48 milhões de dólares. Algo, ao menos, que daria uma noção de quão comprometida estaria a diretoria do time norte-americano com o “projeto Fórmula-1 2011”. Afinal, se a FIA aceitar essa solicitação, tal grana será devolvida à USF1 apenas se honrar o acordo de colocar seus carros no grid das provas de F-1 no próximo ano.

Tudo bem. Apesar de todo o blábláblá sobre redução de custos, a Fórmula-1 ainda é um universo de valores elevadíssimos. Equipes modestas, como Toro Rosso e Force India, beiram orçamentos na impressionante escala dos US$ 100 milhões. Há também os efeitos da pós-crise econômica mundial – que foi bem mais que uma simples “marolinha” nos Estados Unidos e em grande parte da Europa. Contudo, sobra uma questão. Como uma equipe, prestes a ganhar a oportunidade de exibir seus carros em provas da principal categoria do esporte a motor mundial, não consegue fechar budget para uma temporada?

Eis a resposta: falta de planejamento. Algo que no caso da USF1 possui um agravante. Entre as escuderias novatas da temporada vindoura, a norte-americana foi a primeira a apresentar projeto para ingressar na Fórmula-1, em fevereiro do ano passado. Ainda assim, o time não levantou dinheiro suficiente para dar contornos reais a um carro de competição, transferir os conceitos do monoposto de pranchetas e laptops de seus projetistas e engenheiros para a boa e popular “prática”.

Sinceramente, acredito que, apesar do começo negativo, a equipe estadunidense tem até boas chances de conseguir verba para disputar a temporada 2011. Mas, pelo exibido com um ano de existência, resta saber se o time não vai rachar até lá. E se não rachar, a USF1 é o tipo de time que não inspira a menor confiança de me fazer afirmar que na Fórmula-1 ficará por muito tempo. Salvo alterações em sua diretoria. Afinal, a cúpula da esquadra parece não estar disposta a conversar no mesmo idioma. Tampouco mostram disposição de contratar tradutores, para se entenderem.

Em entrevista ao site alemão Motorsport Total, um funcionário do time – que preferiu não se identificar – criticou os fundadores da equipe. Alegou que Ken Anderson não possui condições de comandar a equipe e Peter Windsor pouco dá as caras na fábrica em Charlotte. Outros dois sujeitos, que tiveram a chance de negociar com a USF1, também criticaram duramente o estilo de trabalho na equipe, sobretudo o de Anderson e Windsor. Primeiro foi Felipe McGough, empresário do argentino José Maria López. “Essa gente nos enganou”, disparou McGough ao site da revista argentina Corsa, após a reunião que definiu a rescisão entre USF1 e López – piloto que, ao longo do último mês, ocupou um “cockpit virtual” na escuderia. “Enganou a FIA, a Fota, a FOM e aos funcionários que contrataram”.

Já o segundo a “soltar os cachorros” para cima de Anderson e Windsor foi o proprietário da Stefan GP, Zoran Stefanovic. Vale lembrar que o sérvio aventou a possibilidade de uma fusão entre seu time e a esquadra norte-americana. Mas as negociações emperraram. “Devo ressaltar que não foi Chad Hurley (co-fundador do Youtube e um dos “investidores” da USF1), que estava aberto a discutir o tema, mas sim outros acionistas que sabotaram as negociações”, alegou Stefanovic.

Alheio às críticas, é bastante curioso ver o viés que houve quando Anderson, pouco mais de duas semanas atrás, cogitou a hipótese da equipe estrear apenas no quinto Grande Prêmio da temporada, em Barcelona, no dia nove de maio. No hiato de quase dois meses entre a abertura do certame, marcada para 14 de março, no Bahrein, e a prova espanhola, a USF1 poderia desenvolver seu equipamento e, sobretudo, tentar buscar grana. Muita grana. Contudo, a intenção soou como mais um passo em falso e deixou uma sequela de desconfiança nos poucos patrocinadores do time.

Uma das baixas mais sentidas foi a da empresa suíça de serviços financeiros Locstein Group. O contrato de patrocínio da companhia à USF1, que garantiria nada menos que cerca de 49 milhões de dólares ao time em um período de três anos, foi desfeito. Com direito, a “bons votos à USF1 em seus esforços” no comunicado que justificava o fim de acordo, emitido pela corporação.

A volta da USF1 com estrutura própria em 2011 deve implicar em uma alteração no regulamento da Fórmula-1. Caso a Stefan GP seja promovida à vaga do time estadunidense e, se nenhuma escuderia da atual temporada deixar a categoria, 28 carros estarão presentes na 62ª temporada do certame. Conforme o Pacto de Concórdia, firmado entre FIA e as equipes no ano passado, não é permitido mais que 26 carros no campeonato. Algo, no entanto, que não é problema. Conquistar espaço no mercado norte-americano é antigo desejo do todo-poderoso da Formula One Management (FOM), Bernie Ecclestone, para a Fórmula-1. E uma equipe patrícia poderia ajudar nesse processo. Além disso, a FIA recolheria 14, e não mais 13 inscrições de times no certame. Só para lembrar, cada escuderia desembolsa 309 mil euros (424 mil dólares) por esse registro.

A única coisa que seria inevitável é o choramingo de uma equipe grande.

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