Estatística profanada

Em Sakhir, Fernando Alonso alcançou uma importante marca na Fórmula-1. Com os 25 pontos referentes à vitória no Grande Prêmio barenita, o espanhol da Ferrari ultrapassou os 600 pontos na categoria. Agora, são 602 – em 140 provas disputadas. Além dele, apenas outros quatro pilotos alcançaram tal feito: Michael Schumacher (1377 pontos), Alain Prost (798,5), Ayrton Senna (614) e Rubens Barrichello (608). Aliás, é bastante provável que, em um período nada remoto, muitos outros nomes ingressem nessa lista. Por “méritos” do regulamento de pontos adotado pela FIA à disputa da temporada 2010 do certame.

É evidente que ser superado em qualquer estatística não empobrece em nada a história de um piloto. Sobretudo quando esse é um profissional do porte de Michael Schumacher, Alain Prost, Ayrton Senna e, até mesmo, Fernando Alonso. Afinal, os recordes podem até ir, mas as conquistas permanecem. Mas, inquestionavelmente, a nova distribuição de pontos da Fórmula-1 profana 60 anos de estatísticas do certame.

Vide a própria barreira dos 600 pontos, superada por Alonso. Entre 1991 e o ano passado – quando a vitória em uma corrida valia dez pontos – e sob média de 18 GPs por campeonato, um piloto só poderia alcançar essa marca no fim da quinta temporada. Agora, isso pode ocorrer já em 24 corridas. Ou seja, em pouco mais de uma temporada e três meses. Daí é possível deduzir que, sob o atual regulamento, os resultados obtidos por Ayrton Senna seriam capazes de levá-lo a alcançar mais de 600 pontos em pouco mais de quatro campeonatos na Fórmula-1, não em dez como originalmente conseguiu o brasileiro. Somente em 1991, ano do tricampeonato, Senna somaria 274,5 pontos – ao invés de 96.

O novo sistema de pontos da Fórmula-1 representa a mais radical alteração no regulamento na história da categoria. Em média, as oito primeiras colocações de cada prova tiveram um acréscimo de pontos de 172,75% em relação ao regulamento anterior. Sem esquecer que a bonificação foi estendida do oitavo ao décimo posto.

Em seis décadas, a regra de pontos na Fórmula-1 sofreu alterações, é verdade. Mas bastante sutis. Nos anos 50, a vitória em um GP valia ao piloto apenas oito pontos. Segundo lugar, seis; terceiro, quatro; quarto, três; quinto, dois. Já o dono da volta mais rápida de cada corrida assegurava um ponto. Tal bonificação foi extinta no campeonato de 1960, quando o sexto colocado passou a ser agraciado com um pontinho. Em 1961, o primeiro posto saiu de oito para nove pontos. Aliás, o sistema 9-6-4-3-2-1 permaneceu até o fim da temporada 1990, pois no ano seguinte a vitória passou a dez pontos. Por fim, em 2003, o formato foi alterado ao popular 10-8-6-5-4-3-2-1, presente até a temporada passada.

Para que não fique a impressão – não das mais errôneas – de que sou um tremendo ranzinza, afirmo que o novo regulamento de pontos não é um desastre total. Há um fator extremamente positivo. Trata-se da revalorização do primeiro lugar, que fora seriamente defasado nos últimos sete campeonatos. Entre 2003 e o ano passado, a pontuação do segundo colocado de um Grande Prêmio equivalia a 80% da conferida ao vencedor. Agora, tal marca é de 72% . Quase semelhante à presente no campeonato entre 1961 e 1990, quando o “vice-campeão” de uma etapa recebia 66,7% dos pontos distribuídos ao “campeão”.

Curioso é lembrar que a ideia inicial da FIA quanto à pontuação não era bem essa. Ao fim do ano passado, a entidade divulgou um regulamento no qual o segundo posto não era bonificado com 18 pontos, mas sim com 20. Seria trocar seis por meia-dúzia. Literalmente. Afinal, desse modo, a vantagem de pontos entre primeiro e segundo postos seria mantida nos mesmos 20% presentes nos Mundiais de 2003 a 2009.

Aos vencedores de corrida, o regulamento presente no atual campeonato confere justiça. Afinal, era bastante estranho ver o piloto que conquistou o maior resultado de um fim de semana de GP ter a mesma diferença de pontos ao segundo colocado que do próprio segundo ao terceiro. Problema que já relatava nos artigos Papo Ligeiro pelo menos desde 2004, como no texto intitulado Coisa de regulamento, publicado em junho daquele ano. Contudo, verdade seja dita: não era preciso uma mudança tão aguda, que “poluirá” o ranking de pontuadores do certame. Bastaria dar 12 pontos ao vencedor dos GPs. E nada mais.

Mas como simplificar é verbete que parece não constar no dicionário da gloriosa Federação Internacional do Automóvel, bola para frente.

Veja todos os sistemas de pontuação adotado pela F-1, desde sua criação:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Sistema_de_pontua%C3%A7%C3%A3o_da_F%C3%B3rmula_1

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