Quem não tem cão…

Martin Brundle acumulou números apenas razoáveis durante sua carreira na Fórmula-1. Ao longo de 11 temporadas, conquistou nove pódios e 98 pontos em 158 GPs disputados. No entanto, o inglês tem muito know-how sobre esporte a motor. Não à toa, após pendurar o capacete, tornou-se um dos principais comentaristas de automobilismo da TV inglesa. E em recente entrevista, o ex-piloto de equipes como Benetton, Ligier, McLaren e Jordan tratou de ressaltar que o certame da FIA deveria ter mais datas para testes.

É bem verdade que a drástica redução na quantidade de testes foi um modo encontrado para conter a escalada de gastos pelas equipes da Fórmula-1. Contudo, o número de “ensaios” é muito baixo. Serão 15 dias de testes no próximo mês. E nada mais em 2010.

A situação é péssima a muita gente. O desenvolvimento de um carro passa a ser bem mais vagaroso, pois as equipes acompanham os resultados de alterações aerodinâmicas em seus bólidos apenas no fim de semana de um Grande Prêmio. Por mais que exista túnel de vento e outros 1001 meios de verificar o desenvolvimento aerodinâmico de um monoposto, de fato é nas pistas que se tem real noção se tal tecnologia tornará o carro mais veloz.

Aos pilotos reservas e de testes sobra a inatividade da Fórmula-1 durante o campeonato. Segundo o próprio Brundle, essa situação traz prejuízos ao condicionamento físico do piloto. Se precisarem substituir a um titular, estarão longe da forma física considerada ideal. Algo que justifica parte do fracasso dos “subs” Luca Badoer e Romain Grosjean, no ano passado.

Mas se o restrito itinerário de testes da Fórmula-1 já é ruim a esses pilotos e às equipes, aos pilotos que estreiam com a temporada em andamento, então, é um drama. A única chance de testar – e por uma mísera sessão – é se uma concessão à regra for aprovada por todos os times do certame. Depois, basta receber o aval da FIA e ser “promulgada”. No entanto, trata-se de algo difícil de acontecer. Não por conta da entidade, agora presidida por Jean Todt; mas pelas equipes. Os testes viraram artigos tão raros que a preocupação de alguns times é que, mesmo com um estreante ao volante, a equipe adversária consiga desenvolver algum novo componente ao carro.

Diante de tal cenário, até mesmo os puritanos-de-plantão devem começar a dar contornos a algum “Plano B”. Nesse sentido, lembro de uma história bastante interessante de um espertalhão-de-plantão, Nelson Piquet, durante a passagem de Nelsinho pela Fórmula-3 sul-americana, entre 2001 e 2002.

Naquela época, o tricampeão já tinha o projeto de levar Nelsinho à Fórmula-1. Para isso, julgava que o filho tinha de acumular a maior quilometragem possível em categorias de base. Mas havia um problema: não eram permitidos testes com carros da F-3 sul-americana.

Então, o instinto de Nelsão falou mais alto. Ele cobriu às rodas do monoposto com fibra de carbono. De Fórmula-3, o carro, tecnicamente, virou um “protótipo”. E mais que faturar – e com sobras – o título da temporada 2002 da F-3 sul-americana, Nelsinho acumulou pelo menos 25 mil quilômetros em testes e corridas com o bólido.

Sobrou gente que reclamou. Mas Piquet pai não fez nada de irregular. Somente uma grande leitura do regulamento. Afinal, certamente já conhecia o ditado “Quem não tem cão, caça com gato”.

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O experiente homem da Sauber- E enfim foi solucionada a charada lançada por Peter Sauber, em dezembro passado, sobre quem seria o companheiro do japonês Kamui Kobayashi, na Sauber. O “experiente homem” que pilotará para a equipe suíça na temporada 2010 é Pedro de la Rosa. Piloto de testes da McLaren de 2003 a 2009, o espanhol completa 39 anos em 24 de fevereiro. O piloto de Barcelona é o segundo mais velho entre os confirmados até o momento para a disputa do próximo campeonato. O primeiro é Michael Schumacher, que soprou 41 velinhas no último dia três.

E dá-lhe Sainz!- Esse Carlos Sainz é mesmo um fora de série. Aos 47 anos, depois de uma longa e vitoriosa passagem pelo Mundial de Rali, o espanhol ainda tem fôlego para disputar – e vencer – o Rali Paris-Dakar, na categoria carros. Está aí a prova de que para construir uma carreira brilhante no automobilismo não é obrigatório correr pela Fórmula-1.

Da F-1 para o Rali- Jenson Button declarou recentemente que tem interesse em disputar o Paris-Dakar depois que abandonar a Fórmula-1. “Seria muito divertido”, afirmou o inglês. “O Dakar é uma experiência de vida”.

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