Acidente, falha de comunicação e crucificação de Vettel

De acordo com o diário esportivo Lance, o incidente entre Mark Webber e Sebastian Vettel no Grande Prêmio da Turquia, domingo passado, teve, digamos, um adicional extrapista. Trata-se de uma falha de comunicação entre membros da equipe Red Bull.

O resumo é bastante simples. Antes do acidente, na volta 41, Webber foi notificado via-rádio de que deveria poupar combustível. Logo, Vettel recebeu de seu engenheiro, Guillaume Rocquelin, o aviso de que poderia ultrapassar o companheiro de equipe – manobra, aliás, indicada pelo próprio engenheiro do piloto australiano, Ciaran Pilbeam. Contudo, Pilbeam cometeu um erro. Grotesco. Esqueceu de avisar ao atual líder do certame sobre o combinado da equipe austríaca.

Apesar da credibilidade do jornal, tenho lá minhas dúvidas sobre tal versão. O esporte a motor faz parte de 70% desses meus 25 anos de vida. Nesse tempo, cansei de ver equipe assumirem culpa por conta de abandono ou acidente de um piloto. Por pura proteção. E, para isso, nem é preciso que o profissional ao volante tenha feito alguma asneira. Basta que se envolva em um lance polêmico para as escuderias segurarem a batata quente. Dizer que erraram na estratégia aqui, peça do carro falhou acolá. Tudo para evitar que o burburinho de paddock e imprensa cause desgastes psicológicos em seus pilotos.

Verdade ou não, sobrou jornalistas de várias mídias que, ao longo dessa semana, atribuíram a culpa pelo acidente a Sebastian Vettel. Na minha modestíssima opinião, alheio a qualquer distúrbio extrapista, o episódio entre os dois pilotos da Red Bull no GP turco foi um entrevero comum em corrida de qualquer veículo motorizado. O popular “acidente de corrida”.

À primeira vista, confesso que fiquei com a mesma impressão desses meus colegas de labuta. Quando o alemão virou suavemente o volante do carro à direita, para buscar o melhor contorno à curva, seu bólido não estava totalmente à frente do monoposto de Webber. Contudo, após acompanhar inúmeras repetições do lance por televisão e intenet, pude notar algo importante. Uns dois décimos de segundo antes do toque entre ambos, o carro de Mark Webber deu uma sensível guinada na direção de Vettel. Bem discreta. Não por intenção do piloto da Oceania. Mas sim porque, ao contrário do que muitos imaginam, é impossível a um piloto manter um carro a 200, 250 km/h numa trajetória absolutamente – leia bem, absolutamente – reta. Dada a proximidade dos bólidos, a batida se tornou inevitável.

Claro que há quem possa defender que Mark Webber poderia ter aliviado o pé ainda ao início da disputa. Cedido um bom espaçozinho para a ultrapassagem de Vettel. E poderia, de fato. No entanto, vale ressaltar dois pontos. Primeiro: embora sem sucesso, a manobra do alemão foi espantosa, sem avisos. Ele surgiu rápido demais, em busca de espaço numa tangência pouco favorável. Isso pode ter surpreendido a Webber. Já o segundo ponto é que Mark não era obrigado a ceder a liderança da etapa em Istambul. Até mesmo se Mr. Pilbeam suplicasse via-rádio por tal manobra. Oferecesse ao australiano um polpudo incremento salarial, ovos de Páscoa e panetone pelo resto da vida do atual líder do Mundial.

Embora o próprio Vettel tenha assumido que durante a disputa estava concentrado apenas no ponto de freada à próxima curva, fato é que, assim como o australiano não agiu por má fé, o alemão não cometeu erro algum. Apenas assumiu um risco demasiadamente alto ao colocar o carro em uma parte não tão favorável do traçado. Sim, é verdade que ele tinha preferência à curva seguinte. Mas era uma preferência relativamente enganosa, porque, seguisse a trajetória adotada ao início da disputa, teria um contorno fechadíssimo à curva. Precisaria reduzir mais velocidade do carro que Webber, cujo traçado à curva seria mais aberto. Além disso, o trecho postrerior era uma pequena reta. Logo depois, curva à direita. Nesse sentido, não é exagero afirmar que o germânico poderia ultrapassar o team-mate ao fim da reta onde houve o acidente. Todavia, teria enorme chances de levar o troco mais à frente.

Sebastian Vettel poderia ter postergado a ultrapassagem sobre o companheiro de Red Bull, com uma manobra mais segura? Sem dúvidas. Mas devemos considerar que, além de ser um piloto naturalmente arrojado, o alemão estava fortemente pressionado por Lewis Hamilton, terceiro colocado. Se perdesse tempo para ultrapassar Webber – nitidamente em um ritmo inferior ao de seus dois perseguidores imediatos, Sebastian permitiria enorme aproximação do inglês da McLaren. E poderia perder posição. Além disso, se a tal versão do Lance, citada ao início do texto, for verídica, Vettel pode ter notado a aproximação sobre o australiano e pensado: “É agora que eu vou!”. Pensou ainda que Webber não oferecia grande resistência, deixaria-o passar sem sustos. Afinal, estava tudo combinado, bonitinho lá nos boxes… Não teria problema algum, não é mesmo?!

Alheio à confusão, não esperem guerra entre os pilotos da Red Bull. Trata-se da melhor fase do time austríaco na Fórmula-1, está na luta pelos títulos de Pilotos e Construtores com um carro bastante competitivo. Algum cartola lá de Milton Keynes vai colocar tudo em ordem. A única coisa que devemos esperar é um embate mais forte entre Webber e Vettel, uma vez que o alemão certamente virá mais motivado que nunca à próxima etapa da categoria, em Montreal.

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