As quatro grandes e a hierarquia de 2010

Ferrari, McLaren, Red Bull e Mercedes (ex-Brawn) são as equipes a serem batidas na Fórmula-1 2010. Também pudera. São os quatro times mais bem estruturados da categoria. De quebra, obtiveram os melhores resultados ao longo dos testes da fase de preparação ao campeonato vindouro, que começa nesse domingo, no Bahrein. E é bem provável que esse ano seja marcado por um cenário de equilíbrio parecido ao das últimas nove etapas da temporada passada, quando o mesmo quarteto mostrou desempenhos semelhantes em pista e dividiu vitórias. A única coisa que parece ter mudado para esse início de certame em relação a 2009 é a hierarquia.

Apenas quarta colocada no Mundial de Construtores passado, a Ferrari, dessa vez, parece um passinho à frente das rivais. É a aposta de Michael Schumacher e Rubens Barrichello para andar na frente em 2010. Nas primeiras provas do campeonato, ao menos. Em conta que ambos conhecem bem o time italiano – afinal, pilotaram com sucesso por lá, tal aposta soa como um bom presságio à torcida da Ferrari. No entanto, favoritismo é tema quase proibido pelos lados de Maranello. Atitude inteligente, pois garantir tal condição apenas traria muita cobrança à equipe já diante do primeiro resultado modesto em pista.

Entre as escuderias, a Ferrari acumulou a maior distância percorrida nos testes da fase de preparação à temporada 2010. Foram 7370 quilômetros: 3735 com Felipe Massa e 3635 com Fernando Alonso. Nesse período, o rendimento do modelo F10 agradou durante todo tempo, fosse em simulações de classificação ou de corrida. Em boa parte das sessões de Jerez dela Frontera e Barcelona, a Ferrari optou por ajustes de corrida. Ou seja, muita gasolina no carro para percorrer grandes distâncias, períodos de 40, 50 voltas na pista, sem necessidade de pit stop. Como no 13º dia de testes, quando Alonso mostrou rendimento consistente e cravou o segundo melhor tempo.

De qualquer modo, há um fator que mais deve animar a tiffosi. Trata-se da perspectiva de que a turma da Ferrari trabalhará mais forte que nunca para se recuperar de duas temporadas repletas de asneiras nas pistas. É bem verdade que o carro de 2008 era um foguete – ao contrário do bólido de 2009, que se mostrou um desastre ao início da temporada. Contudo, a equipe cometeu uma série de erros no campeonato 2008, especialmente em estratégias de corrida, que culminou com a derrota de Felipe Massa na disputa pelo título, contra Lewis Hamilton. Ou será que alguém já se esqueceu da mangueira injetora de combustível presa ao carro do brasileiro após pit stop, no GP de Cingapura? Ou das paradas extras para troca de pneus nos GPs do Canadá e de Mônaco?

A seguir, Red Bull e McLaren

Perto da Ferrari estão McLaren e Red Bull. Aliás, assim como o time italiano, a equipe da fábrica austríaca de bebidas energizantes adotou um discurso de humildade para 2010. O modelo RB6, que estreou apenas no quarto dos 15 dias de testes da pré-temporada, se mostrou um carro consistente em longas distâncias. A aerodinâmica do bólido merece destaque, afinal a equipe certamente foi uma das que mais tirou proveito das mudanças no regulamento técnico da Fórmula-1 para esse ano, que conferiram concepção aerodinâmica bastante diferenciada aos carros em relação a temporadas anteriores. Méritos do projetista Adrian Newey, um gênio que rabiscou carros super competitivos em equipes como Williams e McLaren. Além disso, espere por um Sebastian Vettel bem mais amadurecido nas pistas que em anos anteriores.

Assim como a Red Bull, a McLaren vem forte à temporada 2010. O MP4/25 se mostrou um carro bastante equilibrado durante a pré-temporada. Tal condição ficou mais evidente durante a sessão em Barcelona, um dos circuitos de traçado mais seletivo da Fórmula-1. E, com carro balanceado, fica mais fácil extrair a potência do motor. No caso da McLaren, o Mercedes-Benz, sempre aclamado como um dos mais potentes do certame.

Mercedes: um pouquinho para trás

Das quatro grandes da Fórmula-1, a que parece ter ficado um pouquinho para trás, ao menos às primeiras provas de 2010, foi a Mercedes. O time liderou apenas dois treinos da pré-temporada: nos dias dez e 27 de fevereiro, respectivamente em Jerez dela Frontera e Barcelona. Detalhe é que ambos os resultados foram obtidos por Nico Rosberg, em etapas disputadas sob chuva, situação que costuma “nivelar” o rendimento dos carros. Nas demais sessões, apenas colocações intermediárias.

De fato, o modelo W01 não empolgou. Nem mesmo a Michael Schumacher, que, após poucos testes, declarou que o time da montadora de Stuttgart não teria chances de vencer no início da temporada. Muitos pensaram que fosse blefe, mas fato é que pouco antes de Rosberg cravar o melhor tempo no penúltimo dia de testes, o alemão confirmou a declaração. “Eu disse desde o começo que nós talvez não estivéssemos em posição para vencer as primeiras corridas”, afirmou o heptcampeão, que foi além. “Isso realmente não é importante, porque você tem que vencer ao final do campeonato, não durante o começo”.

Alheio à tese de Schumi, Ross Brawn parece seguro de ter uma carta na manga. Trata-se de uma atualização do tão famoso difusor, que será instalado nos carros a partir do GP do Bahrein. Muitos colegas de imprensa alegam que é uma tática arriscada estrear tal peça apenas ao início da temporada, sem um mísero teste em pista. E de fato é. Se o rendimento ficar abaixo das expectativas de Mr. Ross e seu time, centenas de milhares – senão milhões – de dólares investidos no aparato serão “queimados”. E as chances de bons resultados em Sakhir cairão ainda mais. Contudo, é uma aposta arrojada, que merece nossa atenção. Se um sujeito experiente como Brawn guarda o difusor a sete chaves é porque acredita que esse bendito item é capaz de melhorar consideravelmente o rendimento de seus bólidos. Além disso, sabe que, em caso de sucesso, torna-se mais difícil às rivais copiar essa tecnologia a essa altura que na pré-temporada. Afinal, vale lembrar que os testes em pista são proibidos durante o campeonato, algo que torna a evolução de um componente no carro mais vagarosa.

A tendência no time de Ross Brawn, de fato, é a de crescimento ao longo da temporada. Diferente do ano passado, quando a equipe teve dificuldades para desenvolver seu carro durante o campeonato por conta de um enxuto orçamento anual de 130 milhões de dólares, dessa vez grana não será problema. A Mercedes-Benz investirá pesado no time. Além disso, será necessário um pouco de tempo para Nico Rosberg se acostumar à estrutura da nova equipe, após quatro temporadas pela Williams, e Michael Schumacher retomar o ritmo de corrida. Sim, é bem verdade que o alemão é um fenômeno, se estiver em 80% de suas condições físicas e técnicas já coloca muita gente no bolso… E todo blábláblá característico. Mas é evidente que os cartolas da Mercedes, assim como toda a comunidade da Fórmula-1, esperam ver o heptcampeão mais próximo possível daquele piloto dos tempos de Ferrari.

De fato, a Ferrari está no topo da hierarquia da Fórmula-1. Trata-se de algo importante, mas que não significa que o título já esteja nas mãos de um de seus pilotos. A temporada é longa e a diferença nos rendimentos das quatro grandes, ao que indica, está pequena. Um ajuste aqui, um novo pacote aerodinâmico ali e tudo pode mudar. Além disso, não podemos esquecer que as quatro grandes estão muito bem servidas de pilotos e haverá um período às equipes para “pegar mão” do regulamento que extinguiu as paradas para reabastecimento.

Por tudo isso, essa temporada promete!

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