MotoGP: à Honda não faltam ideias, mas lhe sobra soberba

O desastre que levou a Honda à beira do colapso confirma o fracasso de seu método de trabalho no atual ecossistema do Campeonato Mundial de MotoGP. Esta queda livre só pode ser interrompida incorporando a filosofia que revigorou os fabricantes europeus mas que a HRC se recusa a aplicar.

Aquele princípio de que quando tudo dá errado sempre pode piorar, serve para a Honda, que nas últimas duas semanas chegou ao fundo do poço. Nem Marc Marquez, nem Alex Rins e nem Joan Mir, os seus três pilotos mais competitivos, disputaram as duas últimas etapas do calendário, em Sachsenring e Assen, devido a lesões.

O caso mais impactante é o de Márquez, esteio de toda a equipe, que na Alemanha decidiu não correr no domingo depois de acumular cinco quedas em dois dias e meio, e quebrar vários ossos. Apesar de se deslocar até Assen e sair em pista tanto na sexta-feira como no sábado, o espanhol também não disputou a prova longa devido ao agravamento da fratura na costela ocorrida há sete dias.

A Honda, a fabricante mais poderosa do campeonato, ocupa o último lugar na tabela de construtores e não há sinais de que esse declínio esteja diminuindo. Marquez, por seu lado, encarou este percurso com o único objetivo de voltar a vencer depois de ter superado o período mais difícil da sua vida, devido à gestão que fez da lesão no braço sofrida em julho de 2020, que exigiu até quatro operações e da qual já se recuperou totalmente.

Após a última intervenção, já há um ano, o catalão deixou claro aos dirigentes da empresa de Tóquio que a sua intenção era cumprir o seu contrato, que termina em 2024, desde que lhe fornecessem as ferramentas necessárias para que fosse em boas condições para lutar por vitórias.

“Se não, vou encontrar minha vida”, disse ele. Passaram-se três meses, Marquez ainda não marcou um único ponto num domingo e o seu estado de espírito é o de quem está desesperado, circunstância que alimenta quem acredita que a única solução que tem para atingir o seu objetivo é romper com a atual equipe sem nem esperar seu vínculo acabar.

Sobretudo porque se tem a nítida sensação de que a Honda sabe mesmo dar a volta a esta situação, mas não está disposta a implementar as mudanças necessárias para que a recuperação se efetive.

A pandemia de coronavírus, que fechou o Japão com força até recentemente, causou estragos na Honda, Yamaha e Suzuki, que naquele período estavam muito mais condicionadas do que Ducati, KTM e Aprilia.

Aliás, toda a caravana do Mundial que se deslocou a Motegi em setembro do ano passado, ainda teve que obter um visto especial para entrar no país. Esse bloqueio, aliado à longa ausência de Marquez – que passou um ano sem correr -, contra o passo de gigante dado pela Ducati, que domina o grid em número com oito das suas Desmosedici; e com as evidentes melhoras da Aprilia e da KTM, explica a aparente confusão da Yamaha e da Honda, desde que a Suzuki se retirou ao final de 2022.

Esta desorientação é perceptível porque dentro de ambas as casas há quem tenha um diagnóstico do que se passa, e também qual seria o remédio para resolvê-lo. O problema é que este é um assunto muito delicado, o que torna difícil falar sobre isso abertamente, e portanto resolvê-lo rapidamente.

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Esta semana, numa entrevista, Alberto Puig, chefe da Repsol Honda, declarou: “A Honda não quer ter pessoas que não estejam contentes.”, e completou, sobre a continuidade de Marquez na equipe: “Tenho que pensar que sim, porém sobre esta pergunta tenho que dizer que creio que cada pessoa é livre para fazer o que queira na vida”.

Realmente, muita soberba!
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